Mudança em França
No próximo dia 6 de Maio, Domingo,
realizar-se-á em França a segunda volta para as eleições presidenciais. Os
resultados da primeira volta sem surpresa deram a vitória ao socialista
François Hollande que obteve 28,29% dos votos em relação ao seu rival, o atual
presidente da República Francesa, Nicolas Sarkosy (UMP) que ficou em segundo
lugar com 27,02%.
Na minha opinião, a maior surpresa (talvez
algo adivinhável) foi a subida da Frente Nacional com “La Vague Blue Marine”,
liderada por Marine Le Pen que ficou em terceiro lugar com 18,48% dos votos dos
mais de 40 milhões de eleitores franceses.
Retrospetivamente, estes resultados
significam uma derrota clara para a UMP de Sarkosy, uma vez que nas eleições de
2007 obteve 31,8% conseguindo ficar em primeiro lugar e ir à segunda volta
ganhando as eleições por 53% nesse ano.
O Partido Socialista francês subiu e
recuperou ligeiramente, uma vez que em 2007 na primeira volta obteve 25,9% e
agora obteve 28,29%, segundo os dados oficiais do Ministério do Interior da
França.
Agora, relativamente à segunda volta das
eleições presidenciais francesas, todas as sondagens publicadas apontam para
uma possível vitória do Socialista François Hollande que será eleito o próximo
presidente da República Francesa.
As sondagens mais realistas apontam para uma
vitória expressiva do candidato socialista ao Eliseu, perspectivando-se uma
vitória de Hollande por 54% face a uma estimativa de 46% de Sarkosy.
Como cidadão francês (luso-francófono) a
viver a mais de década e meia em Portugal e na qualidade de estudante de
Relações Internacionais considero que esta possível vitória de François
Hollande significa uma alteração no espectro político da França, mas também da
própria Europa.
Acredito e analisando para os dados da 1ª
volta que as eleições para a segunda volta das presidenciais francesas que se
realizarão dia 6 de Maio serão bastante renhidas, apesar do aparente
favarotismo em todas as sondagens de François Hollande.
Para a maioria dos franceses, mesmo para os
eleitores que votam tradicionalmente numa direita conservadora (como é o caso
da UMP e Sarkosy), o último mandato foi uma total e verdadeira desilusão e um
desastre político, económico e social, uma vez, que exagerou em alguma das suas
promessas que não conseguiu cumprir e usou o lóbi da crise internacional para
desculpar os seus fracassos.
Apesar de ser mais enérgico ao nível das
campanhas eleitorais do que Hollande, Sarkosy não soube gerir convenientemente
alguns aspetos da sua imagem presidencial e alguns inconvenientes políticos e
pessoais que foram surgir ao longo destes cinco anos do primeiro mandato.
Hollande é acusado de ser “mole” e de não ter
o perfil adequado para ocupar o cargo de Presidente da França, para além de lhe
podermos apontar alguns “defeitos” em algumas das suas propostas eleitorais por
dependerem da performance económica, financeira e social que a França e os seus
parceiros europeus (sobretudo Reino Unido e Alemanha) terão ao longo dos
próximos cinco anos. Contudo e, ao contrário de Sarkosy, Hollande apesar de ser
mais “mole” do que Sarkosy, tem apostado numa campanha ao Eliseu bastante
firme, segura e sem grandes dificuldades, tendo mesmo conseguido sair com a
imagem política reforçada após o debate da última Quarta-Feira.
No último comício, Hollande, prometeu ao povo
francês que o seu primeiro gesto como Presidente da República da segunda maior
economia europeia é a retirada das tropas francesas do Afeganistão,
significando um enorme gesto político e uma promessa eleitoral de primeira
linha. É engraçado que todos os presidentes das grandes nações (como os EUA e a
França) para ganharem eleições usam sempre a possível retirada das suas tropas
no Afeganistão como um trunfo. Bastará saber se Hollande a ser eleito PR da
França vai dar seguimento à sua promessa.
A possível vitória de Hollande em França
significaria uma grande transformação para a França, cuja a crise afetou
relativamente o país, mas, consequentemente, para a União Europeia e para a
Zona Euro, porque a cumprir as suas promessas para a política europeia e
francesa, Hollande seria o inicio da transformação das políticas que a União
Europeia tem exigido aos seus Estados-Membros, dando enfoque ao crescimento
económico simultaneamente a medidas de redução da dívida pública e da
estabilidade financeira.
Os opositores do PS dizem que os socialistas
são menos preocupantes com as questões orçamentais. Isso é falso. Quem governou
a França nos últimos 15 anos não foi o Partido Socialista francês, mas sim
partidos de direita e dois presidentes da República de Direita (Chirac e
Sarkosy). O desequilíbrio orçamental foi maior nos últimos 15 anos de direita
do que nos governos socialistas de Mitterrand. De 1974 a 2011 o endividamento
público francês passou de 21% para 84% e arrisca-se a chegar aos 110% em 2020
se a França seguisse medidas de Sarkosy.
Quem ler o Programa de Hollande entenderá que
é preocupação a estabilidade orçamental no final de 2016 (daqui a 4 anos) e que
para isso serão tomadas medidas de contenção orçamental para que no inicio de
2017 a França progressivamente mas sem grandes exageros de austeridade possa
ter 0% de défice público.
Relativamente ao endividamento público, o PS
de Hollande tem também um plano para a redução substancial da dívida pública
francesa. Contudo a grande diferença é que Hollande pretende aliar a
estabilidade das contas públicas, a redução equilibrada e programada da dívida
a um vasto programa de criação de riqueza e de emprego em França e na Europa.
Hollande não é contra o Pacto Orçamental da
U.E, apenas pretende acrescentar aquilo que o Pacto Orçamental não tem, a parte
das medidas para a criação de riqueza e de emprego e os métodos de
financiamento aos países da U.E.
A justiça fiscal e social é também uma grande
ambição socialista e por isso aposta-se na criação de três escalões de impostos
aplicados aos cidadãos e empresas em função dos seus rendimentos, para além de
uma ligeira descida do TVA (o nosso IVA) para promover a competitividade dos
produtos franceses.
Analisando todos os programas principais,
acredito que a solução mais equilibrada (não significa que seja a perfeita)
seja a solução socialista e, por isso, vejo com bons olhos a viragem socialista
em França, uma vez que será uma grande viragem para a França e para a U.E.
Acredito no bom senso da generalidade dos eleitores franceses.
Jean Vincent Pereira Coelho
Aluno do 2º ano de Relações Internacionais da
Universidade do Minho